A função da família é refletir os nossos valores.
O que a sua vida reflete e ensina sobre o que é mais importante para você?
Depois de dois meses realizando sessões sobre valores com minhas clientes—para que pudessem desenhar seus projetos de vida, refletindo sobre o que gostariam de construir e viver mais—essa frase chegou aos meus ouvidos enquanto eu escutava um podcast: "A função da família é refletir os seus valores." Foi impossível não anotá-la e refletir sobre isso.
Falar de valores parece ser uma das tarefas mais difíceis. Uma simples pergunta pode ter um milhão de respostas—ou nenhuma. "Nossa, não tenho a menor ideia de quais são meus valores." Ouvi isso de muitas pessoas. Mas o fato é que, definindo ou não, fazemos escolhas. Mesmo que a escolha seja não escolher nada, ainda assim estamos escolhendo. E cada decisão que tomamos diariamente reflete aquilo a que damos importância, mesmo que de forma inconsciente.
Todos nós temos sonhos ou metas. Esses que deveriam conter os nossos valores intrínsecos e pessoais, nossos desejos mais profundos. Que dariam o norte das nossas decisões, atitudes e comportamentos, como uma expressão de como fazemos as coisas.
Mas percebo que muitas de nós estão com eles apagados ou abandonados. Talvez porque foram esquecidos pelos anos que deixou de cultivá-los, ou porque foram esmagados pelo volume de coisas “urgentes” que entram sempre na frente, ou por estarem desatualizados, porque você mudou tanto e eles não te representam mais. E assim, passamos dias, semanas, meses, anos...só fazendo e não construindo nenhum pedacinho daquele nosso grande e importante projeto de vida – aquele que, talvez, você nem se lembra mais qual é.
Uma das razões para esse cenário poderia ser, na verdade, o impulso necessário para mudá-lo: nossos filhos.
A qualidade da nossa vida hoje impacta diretamente a qualidade de vida que nossos filhos terão.
Gosto de pensar que a maternidade pode ser uma grande impulsionadora, e não um freio, para as mudanças corajosas que queremos para a nossa vida.
E como posso ampliar minha qualidade de vida?
Quando vivo de acordo com os meus valores, minha vida ganha uma qualidade imensa. Minhas ações promovem bem-estar, saúde integral e uma conexão mais profunda comigo mesma. Me sinto mais leve, mais nutrida de mim mesma, mais feliz. E esse viver está refletido no meu comportamento, no desenho da minha rotina, no reflexo da minha agenda, nas minhas escolhas - nos “sims” e nos “nãos” que sou capaz e consigo dar. São detalhes que, no todo, não são pequenos. São tudo.
Quando saio de casa para correr no sábado de manhã, o que estou ensinando?
Quando reservo um tempo para estar com meu marido, o que estou mostrando?
Quando encontro uma amiga, qual é a importância disso?
Quando construo meus projetos e vivo meus sonhos, que impacto gero?
Quando me amo, me cuido e me respeito, o que estou transmitindo?
E qual o impacto de eu ter um trabalho que eu amo?
Cada compromisso que eu assumo, cada evento da minha agenda, cada espaço que reservo para mim, eu ensino algo. Tudo mostra o que é importante para mim, o que valorizo. Porque, no fim, somos nós construímos a vida que vivemos no todo dia.
Temos a vida que construímos.
Quando eu tenho a casa perfeita, à custa de um enorme esforço, quando não peço ajuda, não escolho prioridades e faço tudo na força do ódio por estar sempre tão sobrecarregada, quando eu vivo em uma competição de casal para ver quem está mais cansado ou fez mais, quando eu mal tenho tempo de dormir e por isso não me exercito, como mal, fico zangada e com a cara no celular - o que estou ensinando?
Muitas mulheres assumem responsabilidades excessivas cuidando de tudo. Não delegam nada e querem fazer tudo sozinhas, por falta de confiança, por não saber aceitar o que vem ou por controle. Às vezes, isso vem porque foi imposto, ou também porque foram ensinadas, pelos exemplos que tinham ou mesmo crenças escondidas ou não reconhecidas que carregamos.
Mães que querem ser perfeitas em tudo o tempo todo, sem demonstrar fraquezas e cansaços, sem se permitir errar, porque acham que só assim é o certo e serão aceitas (mesmo sem ter clareza que fazem por isso). Não priorizam a si mesmas, negligenciando os cuidados básicos, para fazer tudo pelo outro. Jamais se permitem relaxar, se mantendo sempre muito ocupadas. Nem se lembram da última vez que riram de verdade, que se escolheram, que fizeram menos, que fizeram nada... o que isso mostra que valorizam? O que isso comunica?
Não são apenas as palavras que se repetem, mas também as ações. Nosso semblante, o tom da nossa voz, a falta de olho no olho. Nossos hábitos viram a nossa identidade.
Somos exemplos todos os dias, ensinamos pela ação. E seremos imitadas pelos nossos filhos.
Como definir valores?
Quando for muito difícil pensar nos seus valores, pergunte-se: O que quer deixar para o seu filho, quais ensinamentos, quais frases, exemplos e memórias quer que eles guardem de você? Quais os padrões e regras (explícitas ou não) da sua casa? Qual energia vibra hoje no seu dia a dia? O que acha que seu filho lembraria hoje de você? Quais palavras imagina vir à cabeça dele quando pensa em você?
Uma forma de pensar em valores é pensar no dia do seu enterro. Eu acho meio mórbido, mas para muita gente funciona. Pode ser que traga reflexões sobre a vida.
Aqui estão algumas perguntas extraídas de um livro que podem ajudar:
· Qual é a marca que quer ser lembrada?
O que gostaria que sua vida significasse para os outros?
Por que as pessoas vão achar que foi importante conhecê-lo?
Quer ser lembrado pelo seu sucesso, suas realizações, sua aparência?
Pelas coisas que possui ou pela sua bondade?
Pelo seu senso de humor, sua gentileza, sua capacidade de acolher e perdoar?
Quer que as pessoas lembrem dos momentos que compartilharam com você?
O que gostaria que as pessoas dissessem ao seu respeito?
Em resumo, o que quer que as pessoas digam sobre quem você era e o que deixar de legado por onde esteve? Por que isso é importante?
Refletir sobre essas questões pode nos levar a agir a partir dos nossos valores, cultivar momentos e fortalecer relações importantes. Viver uma vida mais autêntica, cheia de significado, que vale a pena ser vivida e celebrada todos os dias.
Comece a pensar no que poderia começar a fazer, ou parar de fazer, para construir mais a sua vida. Qual o tipo de pessoa que você gostaria que os outros lembrassem ao pensar em você? Comece a criar uma vida a partir disso.
Por exemplo, se amor e respeito são valores para você, como suas ações confirmam isso? Um valor deve ser considerado por um prisma: como eu me trato, como eu trato o outro e como eu permito que os outros me tratem. Tenho amor e respeito por mim, e isso se reflete nas minhas escolhas diárias? Isso são meus hábitos? Qual a importância dou mesmo aos que digo serem importantes?
Se saúde é um valor para você (e eu realmente indico que seja, porque é o que irá permitir vivenciar tudo o que deseja), como estão as suas escolhas alimentares, sua presença nas atividades físicas, no seu cuidado com o sono e gerenciamento de estresse?
E como seria viver os meus valores?
Vamos pensar em algo ainda mais prático: a sua agenda. Ela tem o que? Quais áreas da vida estão nela? Quais papéis você desempenha? Você se encontra na sua agenda? Sua agenda representa seus valores?
A nossa agenda precisa ser reflexo dos meus valores, dos papéis que tenho na minha vida, de como vou representá-los nesta fase da vida e de como gerencio as minhas tarefas da vida adulta. O resultado da nossa agenda é a construção de algo que se faz a partir de etapas, para ser um retrato real sobre quem você é de verdade e o escolheu fazer. Ela representa a nossa vida.
É um método, de etapas, que faço na minha mentoria. Se não há uma criação estratégica, ela nasce para falhar. Se sua agenda é você e você acredita nela, ela será gostosa de vivê-la, fica fluída. Ajudo minhas clientes a criarem uma estrutura de organização que as ajuda a viver todos os dias a vida que elas desejam. Onde escolhem diariamente aquilo que realmente importa, onde elas param de se encaixar e se expandem, tendo mais liberdade, leveza e saúde. Vivem dias que constroem sonhos. E, ao final de cada dia, sentem uma boa sensação: eu vivi aquilo que é essencial para mim. Onde você colocou tempo, energia e presença onde escolheu.
Comece a pensar sobre isso analisando sua rotina. Onde estão seu tempo, energia e presença hoje? Tudo isso é importante pra você? Inclui tudo que gostaria de viver? Constrói seu projeto de vida?
Por fim…
Toda a educação começa com a autoeducação.
Quer educar algo, passar algo importante para os seus filhos e pessoas ao seu redor? Olhe para si mesma. Questione o que você faz, como faz; assim você ensina. Você dá exemplo. Você deixa a sua melhor herança para a evolução ou continuidade da sua família. Honra a sua própria vida.
Se não encontrou motivação ainda para fazer por você, faça pelos seus filhos.
Uma das grandes causas de esgotamento não é só por fazer muito, mas porque temos sempre a sensação de que estamos fazendo as coisas menos importantes, que não são essenciais nem para mim, nem para o meu projeto, nem para o que eu quero deixar como legado. Fico pouco motivada, fico estressada e não faço nada que importa.
Ninguém ensina ou transmite valores fazendo o contrário. Lembre-se sempre disso.
Tudo começa por nós: a mudança que queremos ver no mundo e o ser humano que gostaríamos que nossos filhos fossem. É sobre quem eu sou e também como eu faço. Não o que eu faço!
Mude e veja a mudança acontecer ao seu redor. Ações sempre serão as melhores palavras. Eu sou o ambiente da minha família. Ou, como na mais nova analogia que aprendi: sou tocha, ilumino e mostro caminhos.
Coragem é sair desse lugar de perfeição em tudo, que leva à exaustão, mau humor e esgotamento físico e mental, para ser mediana nas coisas menos importantes para fazer o que realmente é inegociável na nossa vida.
Porque, no fim, o que realmente importa são seus valores.
Torne-se a pessoa que inspira a si mesma e todos ao seu redor. Tenho orgulho de quem está se tornando todos os dias.
Obrigada por estar aqui.
Marina Rondon
“Ao menos que você desperte, o amanhã será como hoje.”
( Não sei o autor desse frase, infelizmente, mas anotei por que gostei demais. Mais um convite de que é preciso despertar para criar o novo).
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Aproveito e deixo um convite para conhecer a minha Newsletter de meu projeto Arquitetura de Vida Saudável. Na última edição falei sobre como a coragem está presente em todas as nossas escolhas – e por que ela é essencial para construir a vida e a saúde que desejamos. Leia aqui.
Se você ainda não conhece esse meu projeto, visite o site e se inscreva; adoraria também te encontrar lá.
Marina Rondon
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Marina Rondon