Desistir, Mudar ou Recomeçar?
Reflexões sobre o momento certo de seguir em frente ou reinventar o próprio caminho.
Honestamente, eu não sei. Vivi uma fase da minha vida em que tinha muita dificuldade em colocar fim nas coisas. Já passei meses em namoros que não iam a lugar nenhum, com parceiros de trabalho que não entregavam bem, e até com aquele treinador que era ótimo, mas que não me atendia.
Às vezes, era a tal coragem de desagradar e, talvez, até a preguiça de começar do zero. O esforço de buscar uma solução e passar por uma nova adaptação paralisava minhas ações. “E se, ao mudar, eu acabasse pior do que antes?” Medos que eu tinha.
Percebi também que muitas situações se prolongavam porque, com a vida sempre corrida e meu perfil de "fazedeira," eu nem tinha espaço para pensar: “Será que dá para ser diferente? Isso aqui ainda é bom para mim? Poderia ser ainda melhor?” E eu só seguia naquela vida automática, cumprindo tarefas e ações determinadas para mim.
Mas será que recomeçar é mesmo mais difícil do que começar do zero? Talvez. A parte mais difícil do recomeçar é que já sabemos como é o início dessa nova jornada, do processo que exige esforço e energia, mas sem a excitação do novo. O bom é que já sabemos também o que vem depois da fase de adaptação, os ganhos – e isso pode ser o motivador.
Recomeçar a correr, por exemplo, sempre me custou mais. Já tive pausas por lesão e pelas minhas gestações, e nunca foi fácil voltar. Como já não tem o êxtase de ser algo novo, algo que nunca fiz, é menos estimulante. Eu gosto do misto de medo com coragem e sou muito atraída pela vibração das novas experiências e aprendizados.
Depois de tantas experiências, de perceber que mudar era inevitável e que poderia ser ainda melhor, fui dominada por uma coragem avassaladora, e de repente mudei tudo, como em um impulso: casa, carreira, país... “A única certeza é a impermanência das coisas,” um dos grandes ensinamentos dos retiros de yoga que fazia antes dessas grandes mudanças, trouxe-me confiança para o movimento natural da minha vida. Nada seria como antes, nem eu.
“Nada é mais necessário para a transformação do ser humano do que a aceitação de que a mudança faz parte da jornada.” – Carl Jung
Muitas pessoas passam por grandes mudanças ocasionadas por algo impactante que aconteceu nas suas vidas, como ouvir um “eu te amo,” um diagnóstico, uma grande proposta, uma perda, uma demissão, uma crise, um burnout... Na maioria das vezes é a dor que traz reflexão. Para mim, foi a chegada do meu filho, ele foi meu botão de transformação que abriu todos os meus questionamentos.
Mas de modo geral, parece que é preciso o pior cenário para começarmos a fazer mudanças que deem suporte à nossa saúde, relacionamentos, carreira, família e futuro. Segundo Joe Dispenza, no livro “O Hábito de Ser Você Mesmo” podemos também escolher evoluir em um estado de inspiração e alegria, em vez de reagir à dor. Esse tipo de mudança requer coragem e firmeza, porque demanda desafiar nossos padrões antigos, deixar de ser quem somos. E isso é desconfortável, inconveniente, envolve rupturas e períodos de incerteza.
Mas o que diferencia recomeçar, mudar e desistir?
Ao mudar, recomeçamos uma nova fase e, ao mesmo tempo, deixamos algo para trás: uma fase, um ciclo ou mesmo uma versão de nós. Desistir também é parte do processo de mudança: fechar ciclos para começar outros e, às vezes, abrir mão do que já não serve mais. A mudança, muitas vezes, exige a coragem de abandonar velhas histórias que não nos representam mais para recomeçar novas.
Hoje, estou aqui com essa newsletter – que era o meu momento preferido da semana – sem saber o que fazer com ela. O tempo de pausa, entre as férias e a mudança de casa com duas crianças, foi necessário. Eu precisava fazer menos dentro de tudo que já faço. Mas agora sinto que estou prolongando; já vão fazer 4 meses e a pergunta surge: “Por que voltar? Será que seria a hora de mudar, recomeçar ou desistir?”
No início, escrevia para mim, como um espaço onde eu explorava o que não cabia em nenhuma outra rede social, incentivada também por pessoas que gostavam do que vinha compartilhando. Um lugar íntimo, vulnerável, com as minhas "regras." Um espaço representado pelo que acredito, onde poderiam surgir conexões. Foi um ato de coragem começar: eu, uma arquiteta que “só sabe desenhar,” me aventurando pelas palavras. Gostei da ousadia; adoro fazer algo que nunca fiz. E, como em tudo novo na minha vida, me empolguei, só queria fazer isso. Mas fazer bom material demanda pesquisa, reflexão e edição – e isso demanda tempo. Logo esse que tanto me falta. Minha mentora me perguntou o que hoje faço que demanda esforço e gera pouco resultado, pensei na newsletter. Mas o que é resultado hoje em dia? Só dinheiro? E sobre alimentar nossas paixões? Coisas que penso e, por isso, sem resposta, ainda não ajo.
Resolvi então pensar no que sempre me ajudou nos meus processos de mudança e algumas coisas vieram:
- Entender por que preciso mudar, analisar os ganhos e as perdas e verificar se a decisão está alinhada com meus valores e com aquilo que quero construir. Parker Palmer, no livro “A Vida Que Você Nasceu Para Viver”, descreve esse processo como "escutar a própria vida," uma maneira de saber se estamos seguindo a nossa verdade. “Isso ainda faz sentido para mim? Isso ainda me representa? É onde quero colocar o meu tempo e minha energia? Isso está me dando o que eu esperava?”, perguntas que me faço.
- Me lembrar de que nada é definitivo. Posso recomeçar sempre que necessário. Mudar de ideia, começar de novo ou reinventar. A monja budista Pema Chödrön sugere que aceitar a incerteza e as transições da vida abre caminho para novas versões de nós mesmos, com a tranquilidade de que algo novo sempre pode surgir. Ela diz que “as mudanças mais significativas não se dão na certeza, mas na aceitação do que ainda não conhecemos.”
- Saber que tudo é uma continuidade; mesmo um final é só uma nova versão de algo em mim, uma continuação de uma história. Tudo é sempre uma transformação. Uau. Liberta, né?
Carol Dweck, em seu livro *Mindset*, fala sobre a importância de estarmos abertos ao aprendizado contínuo, lembrando que as maiores mudanças não surgem de uma única ação, mas de um conjunto de pequenas transformações ao longo do tempo.
Então, por que tantos resistem à mudança?
Talvez pelo desconforto da fase intermediária – aquele espaço onde não somos mais o que éramos, mas ainda não sabemos o que seremos, é angustiante. Talvez essa fase, onde tudo se transforma, seja o que mais impede as pessoas de mudarem. É uma fase de transição como o “neutro," o terreno fértil onde o futuro começa a brotar, mas ainda não sabemos exatamente em que direção e o que vamos colher. Considerando sempre que essa fase de transição pode envolver questões emocionais, relacionais, de energia e tempo, por isso tanta resistência.
Gosto de pensar os processos de mudança como reflexo de uma ação tomada de forma consciente, quando saímos do automático e criamos uma pausa para pensar e buscar clareza sobre por que fazemos o que fazemos. Requer não só consciência, mas a abertura a novas perspectivas, força, mente confiante, suporte e apoio e potência para se manter firme na nova escolha. E de como isso pode trazer ausências, desconfortos, desagrados, mas pode abrir espaço para algo ainda melhor. Sou dessas, otimista.
E como “não existe morrer pela metade,” que li em um texto tempos atrás. Tem que morrer por inteiro pra deixar o novo vir. Tem que ter coragem e confiar no poder da mudança e na alegria de viver o novo.
A mudança vem na mente, depois se torna ação. De dentro para fora. A ação é só o final do primeiro ato. E depois tudo continua...
“Todo processo de renascimento envolve atravessar as próprias sombras e deixar o que não nos serve para trás.” – Clarissa Pinkola Estés
A mudança é inevitável; que ela seja, então, uma escolha, não uma reação.
E tudo isso para dizer que haverá mudanças por aqui – talvez até um formato experimental. Vou voltando aos poucos, adaptando e vendo como a newsletter pode evoluir. Pode ser que venha com menos frequência, mais reflexões, quem sabe até temas diferentes… ou um novo formato que ainda vou descobrir. Pode ser que eu a deixe aqui como um canto mais meu e foque em outro formato ou plataforma de compartilhamento.Não sei.
No meu trabalho, gosto de ajudar, me conectar com pessoas, causar um impacto positivo, trazer reflexões, conhecimento e ainda tenho dúvida se este é o melhor caminho. Gosto da minha versão aqui, mais vulnerável, mais leve e mais profunda. Mas ainda estou sem resposta para as minhas perguntas.
Até o final do ano, devo começar uma nova newsletter com temas de Saúde Integral, ligada ao meu projeto “Arquitetura de Vida Saudável.” Minha ideia inicial é compartilhar o que venho estudando, praticando e vivenciando na minha jornada de autoconhecimento e aprendizados sobre saúde integral. É um convite para ampliar o olhar sobre todas as dimensões da saúde (física, mental, emocional e espiritual) e todas as áreas da nossa vida que também constroem a nossa sáude. E simplificando e resgatando o básico, porque acredito que cuidar da saúde pode ser simples quando buscamos viver de forma mais leve. Se você ainda não conhece, visite o site e se inscreva; adoraria também te encontrar lá.
Se quiser me ajudar nesse processo aqui, dar sua opinião, me contar o que gostaria de ver aqui, o que gosta, como poderia ser diferente, vou adorar saber. Cada sugestão é uma maneira de construir este espaço que também representa todos que já estão aqui comigo.
Obrigada, mais uma vez, pela leitura. Feliz de estar aqui.
Marina Rondon