Meu primeiro entendimento da potência que a maternidade é capaz de nos dar, veio da amamentação. Tive o privilégio de amamentar meus 2 filhos (sei que é algo que não basta querer, há uma série de questões envolvidas para conseguir amamentar) e foi uma jornada de autoconhecimento e força.
Quando descobri que ia ser mãe, como tudo que faço na vida, comecei a estudar e ler compulsivamente tudo o que ia passar. Como se em algum lugar encontraria o que eu precisava saber para viver o que iria viver. Grande ilusão. Mas não posso negar que me fortaleceu de conhecimentos muitos importantes para o meu filho, como amamentação, reflexões sobre a educação, desenvolvimento infantil e outras muitas coisas que aprendi. Me deu bases para buscar, e até mesmo lutar, por tudo que decidi viver da minha maternidade e Parentalidade. Encontrei caminhos e me trouxe muitas reflexões.
Quando o Bento nasceu e tudo começou para valer, mesmo eu tendo feito exatamente o que aprendi em livros e curso de amamentação, percebi que viveria desafios que não tinha me preparado: a dor do começo da amamentação. E esse meu começou durou mais de 3 meses. Eu tinha feito curso particular para aprender sobre a pega, posições, mas ninguém me falou que a língua presa do meu filho poderia me machucar. E doer muito. Eu me lembro de sentir gosto de sangue na boca toda vez que ele fazia a pega e começava a mamar. Os primeiros segundos me dava vontade de chorar. Depois, ou eu me acostumava com a dor, ou de fato ela suavizava. E persistente que sou, segui. Cortamos o freio, recebi a consultora em casa 2x, fiz sessão de laser. Tudo. Socorro! Lembro de ligar para uma amiga que tinha me falado que no começo doía, mas que depois passava para perguntar : “Mas quando passa mesmo?”. Eu precisava mirar em um fim. Eu me encontrei muitas vezes no limite entre o que eu queria fazer e o que estava sendo capaz de fazer. Foi muito desafiador. E depois vem ainda a dor de um peito empedrado. Ninguém também me falou.
Mas esses desafios não foram os únicos. Eu que nunca gostei de chamar a atenção (Sou daquelas que corta o cabelo e odeia sentir olhos pra mim, me analisando… muitas questões aí. ), vesti mais uma vez a força da maternidade para o meu importante prevalecer: a livre demanda. Onde quer que eu estivesse, com quem eu estivesse, eu amamentava meu filho todas as vezes que ele precisava. E recebi olhares, muitos, talvez menos julgadores (ou não), mais curiosos talvez, ou era mais o meu próprio incômodo de me expor, mas aprendi a priorizar o meu importante. Não quer dizer que não tinha desconforto, mas a certeza de que estava fazendo o que era importante para mim, para o meu filho e me fortalecia ainda mais.
A volta ao trabalho aos 5 meses do meu filho foi outro grande desafio. Eu somei minha licença com as férias, mas não foi o suficiente para suprir a necessidade de qualquer bebê da exclusividade do leite materno até os 6 meses. Essa foi uma das minhas grandes revoltas. Depois de tanto ler que era essencial pra saúde dele e o risco do bico artificial atrapalhar a amamentação, não ter o suporte para minimamente cumprir os 6 meses de aleitamento foi um choque para mim. E lá fui me empoderar da maternidade e comecei a criar as minhas regras: vou todos os dias no almoço amamentar meu filho. E vou estar pronta para batalhar por esse direito até alguém reclamar. Nunca reclamaram. Acho que não perceberam.
Depois mais uma dificuldade, a extração do leite materno em local nada amistoso e adequado: o corporativo. São poucos os locais e empresas que tem um lugar confortável, que entendam que temos que extrair em horas corretas, que isso leva tempo e que precisamos minimamente de tranquilidade para a produção de leite. Eu sentia que tinha olhos para minha mala de amamentação. Precisei ser forte para andar pela empresa com a máquina de extração de leite. Eu bloqueei minha agenda e novamente criei meus limites e meus inegociáveis. Por sorte, eu tinha muito leite e ficava cerca de 15/20 min para encher 2 mamadeiras. Sei que isso é bem incomum. Como não temos esse respeito e cuidado se estamos fazendo apenas o que é o melhor e recomendado para saúde de uma criança, um novo ser humano que estamos criando para a sociedade? Lembro de eu aflita com uma possível viagem a trabalho que surgiu para mim, sem me consultarem. Como iria tirar leite nesse dia? Como seria o desconforto de não extrair nada durante o dia? Será que ia doer ou ia ter um acidente de blusa molhada?
Não foi leve. Eu disfarçava. Escondia minhas aflições. Procurava janelas onde havia menos gente, onde incomodaria menos, atrapalharia menos a agenda, onde eu me sentisse menos exposta. Na rua, onde eu era mais mãe que executiva, com o filho no colo, eu sentia poder. Amamentava e isso me dava a sensação que estava fazendo o meu melhor papel. Mas no ambiente masculino do corporativo, foi desagradável demais, por que fiz, me incomodei e fingi ser natural. Engoli seco. Já tinha visto mulheres lutar por melhorias, mas sem sucesso. Não quis entrar nessa briga, queria mais voltar a me encaixar naquilo tudo de novo, como se isso fosse possível, mas achei um caminho e segui. Hoje talvez fizesse diferente. E ainda penso em como seria o mercado corporativo se fosse mais feminino.
Eu e minha mala de amamentação desfilamos no ambiente corporativo até o início da pandemia, quando meu filho fez 8 meses. E depois em casa, vivi um alívio de reduzir o desconforto desse não suporte e pude seguir minha amamentação para além dos 12 meses.
Com a Flora, tudo fluiu melhor. Não é uma certeza numa segunda gestação, mas foi com menos surpresas, menos dor e por essa estar vivendo uma outra vida, muito mais fácil em todos os aspectos, tanto que seguimos até hoje. Há leveza no que eu e a Flora vivemos. Criamos um novo caminho.
Sei que tudo que vivi, apesar de desafios e dificuldades, vem de um lugar muito privilegiado: tive acesso à consultoras, cursos, muitas informações, morava perto do trabalho, tinha uma super máquina de extração de leite, sempre tive muito leite e também a confiança de criar as minhas regras no retorno ao trabalho. Tenho certeza que muitas outras mulheres viveram, talvez esses, mas seus muitos outros desafios. Muitos em silêncio.
Com a maternidade aprendi a criar limites e a dizer não. Saber os meus inegociáveis e a certeza dos meus importantes. Confirmei os meus valores e a ser, ainda mais, resiliente. Aprendi, na prática, sobre priorização. E com certeza, aprendi a ser muito mais forte. Não só fisicamente, mas por inteira.
Mães são super potências.
Qual o super poder que a maternidade te deu? O que ela vem te ensinando?
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