Essa pergunta tem me vindo a cabeça. Tenho contato com muitas mães. Vejo a minha volta mães tão incríveis, naquilo que se dedicam, que enxergam, que se dispuseram a fazer diferente, na busca de uma educação com respeito, com individualidade, empatia, acolhimento, onde aceita erros, desenvolve o pensar crítico, a autonomia, com comunicação positiva, tanta evolução perto de tudo que tínhamos de referência nos anos 80, mas será que essas mães, conseguem enxergar o tamanho da revolução que estão fazendo em suas famílias? Será que elas têm orgulho das mães que são e se parabenizam por isso?
Tenho uma amiga que começou a observar uma ansiedade maior na sua filha, preocupações que não eram da idade e até alguns comportamentos que sinalizavam alguma coisa. Ela, sempre muita atenta a tudo, buscou ajuda, conversou com quem ela tinha de referência, falou com a pediatra e fez consulta com uma psicóloga. Eram mesmo sinais de ansiedade. E hoje sua filha, que tem 5 anos, faz sessões de terapia para trabalhar suas emoções. Eu achei tão lindo como ampliamos e humanizamos o nosso olhar para as crianças, não criando rótulos e só desconexões. E como conseguimos mudar um “para de besteira” e “engole o choro”, para um “o que será que esse comportamento está querendo dizer?” e “tem algo que possa fazer para ajudá-la?”
Lembro que ela me contou triste sobre isso, muito preocupada, analisando suas próprias atitudes, se perguntando se faltou presença, com um olhar crítico para si mesma, se questionando porque a filha dela estaria sentindo isso, como se houvesse só uma culpa dela ali. Eu conheço bem a mãe que ela é, ela é maravilhosa. Uma mulher que está conectada com a filha, que busca fazer sempre o seu melhor, que estuda sobre educação, desenvolvimento infantil e comunicação positiva, e age! Logo que percebeu, pesquisou, conversou, buscou ajuda, ajustou a rotina e fez o seu melhor, com o privilégio também que ela tem hoje de poder dar isso à sua filha. Eu a admiro muito, acho mesmo ela uma super mãe. Ela deveria ter orgulho da mãe que é e a crítica ou a culpa deveriam passar muito longe.
Aquilo que nossos filhos percebem, sentem, a gente não controla. Não é só tudo sobre nós, tudo culpa nossa, é sobre o ser humano que eles são e a percepção que eles têm do mundo. E o mundo deles, é além de nós. É sobre também, aquilo que eles vieram viver e se desenvolver e até nos ensinar, muitas vezes.
Temos que achar o nosso caminho de educar, do cuidar, se der mãe, de seguir o que acreditamos, com a nossa certeza que estamos fazendo o nosso melhor, mas que eles têm os processos deles, as interpretações deles e viverão suas histórias de vida. Estaremos ao lado, presentes, ouvintes, incentivadoras, apoiadoras, acolhedoras, ou qualquer coisa que eles precisem, para eles crescerem e ganharem o mundo.
Já me vi responsabilizando muito pelo o que não é totalmente responsabilidade minha (ou diria, controle meu), que seria o “dorme bem e come bem”, por exemplo. Com o Bento, eu tinha “o dormir bem” como uma missão. Fiz uns 3 cursos, li uns 8 livros, ajustei rotina, ruído branco, tampei cada luz no quarto, blackout, ritual da noite, massagem, banho relaxante, sem telas… absolutamente tudo. Quanto mais eu lia, mas eu via que já fazia o que poderia fazer para ajudá-lo. Ele foi só dormir bem depois dos 3 anos. Com a Flora, já insisti menos, ela com 2,4 ainda acorda muito só para ficar comigo.
Aceitei. Não é fácil, mas aceitar é mais leve do que viver em frustração, com ansiedade, culpa ou na busca do controle do incontrolável.
Claro que devemos e podemos sempre buscar ajuda, nos informar, fazer a nossa parte, estudar sobre desenvolvimento infantil para entender o que é um comportamento da idade ou uma necessidade específica do nosso filho ou algo mais que ele está tentando expressar, mas posso eu me responsabilizar por eles acordarem tanto a noite?
Com a Flora, a minha meta foi a introdução alimentar. Como o Bento era um case de sucesso, resolvi fazer igual. Olha a ilusão. Decidi que ela entraria na creche só depois de completar a Introdução alimentar, que seria somente comigo até os 12 meses. Queria que ela aprendesse a comer BLW e tive acompanhamento nutricional mensal pelos 6 meses, me orientando em detalhes de como fazer A MELHOR Introdução Alimentar que eu conhecia. Me esforcei para que ela sempre comesse os 6 grupos alimentares em todas as refeições, que tivesse variedade dentro dos grupos e da forma como o alimento era apresentado. Que ela tivesse 100% de autonomia nas refeições, respeitasse sua fome e saciedade, que fosse um momento calmo, com a minha presença … E hoje, ela está só come macarrão, ovo e batata FRITA! Eu fiz tudo! Nunca me parabenizei. Na cultura, onde só se parabeniza bons resultados e não o empenho dos processos, eu falhei. Não vi valor no meu esforço.
Só pontuei o resultado que hoje não é bom. Logo esse, que nem dependia de mim.
Comecei a me falar mentalmente “o meu papel é fazer o alimento que eu acredito ser o bom para os meus filhos, o deles é comer”. Claro que convido, sento junto, como junto, estimulo, mas parei de me criticar por isso. Tenho a leveza de quem fiz e faço a minha parte. E firmo para mim mesma que é fase e foco o olhar no que ela faz de bom (come muitas frutas. Ufa). Quem sabe um dia a Flora ame brócolis, como o Bento.
Tenho uma outra amiga mãe que tem uma maternidade que admiro muito. Ela tem uma curiosidade tão bonita pelos filhos, pelos desafios que eles estão passando. Muito atenta e dedicada com presença e empatia às fases desafiadoras que toda criança que tem, mas que quando são as nossas crianças, nos consome. Eu já a vi se questionando, com culpas e questões internas, pensando o que poderia ter feito melhor.
Às vezes, me pego criticando que deveria ser a mais lúdica, mais estimuladora, ou qualquer outra pessoa que não sou. Mas eu sou a mãe que coloca música para dançar junto na cozinha e no chuveiro, que faz questão de fazer as leituras dos livros a noite, que adora brincar de fazer caretas e palhaçadas, de trazer as brincadeiras da minha infância para eles, de sentar junto e admirar um pôr-do-sol, que ensina sobre gratidão, coragem, reconhecimento de erros, a importância de se cuidar e sobre cuidar dos nossos sentimentos.
E entre muitas coisas que sou e que não sou, eu sou a mãe que sou, todo dia buscando ser mais eu e mais o que eles precisam de mim.
Percebo que, muitas de nós, quando enxergam o que eles têm de bom, falam mais um “que sorte a minha”, e aquilo que eles têm dificuldade, “deve ser culpa minha”. Será? Quanta injustiça!
Participo de um grupo de mães aqui em Portugal, que foi criado quando entrei para um programa de cuidado às gestantes, mas que hoje o foco é mais em buscar os melhores cuidados para os seus filhos. A forma mais saudável, mais generosa, mais alinhado com aquilo que a criança precisa em todos os cuidados e olhares. Os melhores estímulos, os melhores médicos, sobre a melhor leitura de seus comportamentos, o que é mais seguro, o que é melhor para o desenvolvimento, a melhor forma de alimentá-los, os melhores suportes, a melhor rotina, o que é mais respeitoso em absolutamente em todos os sentidos. Desde o melhor sapato que permita que o pé tenha maleabilidade (e se sapato é o melhor para nossas crianças), a roupa que permite liberdade aos movimentos, tudo que seja mais confortável e estimule aquilo que eles precisam … tudo. São mães incríveis.
Será que essas mães também olham para si, investem em si e cuidam de si mesmas com tanto empenho e dedicação?
Eu acho que deveríamos começar uma lista de tudo que nós somos como mães, como educadoras e como exemplo (já que ser é uma forma maravilhosa de educar). E também nos cuidar da mesma forma que cuidamos dos nossos filhos. Fazer por nós, o que fazemos pelo o outro.
Vejo filhos que comem melhor, fazem tratamento preventivos, tomam homeopatia, roupas orgânicas, e muito mais. E mães, que nem se lembram a última vez que se permitiram descansar e ter uma refeição com presença. Não se priorizam em nem um minuto para cuidar de si.
E por fim, vou deixar um convite, para quem sabe, virar uma boa corrente: parabenize uma mãe que admira pela sua maternidade. Conta para ela o que você vê.
Nós, vindas de uma educação e cultura onde ouvimos muito “não fazemos mais que a nossa obrigação”, às vezes, é preciso ouvir de fora para se olhar e acreditar na mãe e na mulher que somos.
Somos humanas, somos únicas, somos imperfeitas, e por tudo que somos, somos incríveis.
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