Lembro exatamente o dia que postei essa foto. Eu era um misto de quem era e de quem eu estava me tornando, postei e depois tive vergonha
No story dizia: 2 meses depois e a calça jeans serviu.
A preocupação com o corpo, com o peso, a estética era algo muito importante para mim. O número da balança, o número da % de gordura … o número, o número. Malditos números.
Muito mais que um número, uma neurose. Veja bem, se sentir bem com o seu corpo, me faz muito sentido, mas hoje entendo o que é ou não saudável.
Quando engravidei ouvi das pessoas: “Você vai ser daquelas que vai ter só barriga, que de costas nem vai parecer grávida”, “Vai voltar muito rápido, não vai engordar nada”. Cumpri todas as expectativas. Fui tudo isso. Mas o que importava? Eu não me importava mais. Já não era sobre isso. Não era a minha expectativa. Mas cumpri. E esse é um exemplo que tudo que fui cumprindo que já não era mais sobre mim.
Eu estava perdida. Eu estava entre a mãe que virei e a mulher que eu era antes de ser mãe. E nesse lugar eu não sabia muito quem eu era, eu fazia algumas coisas automáticas do meu antigo eu, mas me sentia muito estranha.
Fiquei magra, tão magra, talvez magra para sumir ou tentar caber de novo. Naquilo. Naquele resto que me cabia ou me coube um dia na vida. Daquele tempo que corria e o espaço da “sobra” para eu me colocar, não existia.
E não me encaixava em nada. No grupo de corrida que buscava performance, no grupo de amigas sem filhos que estava na balada bebendo, nas amigas workaholics que estavam super preocupada com bônus do ano. O peso e a importância das coisas estavam muito diferentes. Ficava perdida nas conversas em que me encontrava, me pegava olhando perdida em algumas mesas onde havia muitas falas, totalmente desconectada. O autocuidado que amava não fazia mais sentido da forma como eu fazia. Eu nem sabia mais do que gostava, do que precisava. Eu já não cabia mais em nada. Só nas roupas. Que nem gostava. Não encontrava falas similares em outras mulheres que viviam o que eu vivia, liam o que eu lia, percebiam o que eu percebia, sentiam o que eu sentia… não encontrava outras mulheres que estavam se sentindo tão sem lugar, como eu.
E como assim? Eu estava com o meu filho saudável no colo, meu marido amado ao lado, tinha acabado de virar diretora da empresa mais desejada da minha área, tinha comprado uma casa linda. E estava magra! Não era sobre isso. Era sobre mim.
Descobri, 4 anos depois, que outras mulheres também estavam onde eu estava. Ao meu lado. Fingindo participar das conversas que também não se interessavam, talvez para se sentir mais normal e aceitas de novo. Encontrei no meu novo trabalho mulheres que também estavam com tantas transformações internas como eu, mas não havia uma lugar seguro e acolhedor para troca, suporte e apoio.
Mulheres que estavam tentando se encontrar, retomando aquilo que também são, depois da entrega a maternidade. Mães que se questionavam o queriam fazer verdadeiramente com suas vidas e estavam tentando se adaptar naquilo tudo que já não era mais ou naquilo que ainda não se tornou. Mulheres que também passaram por todo esse desconforto da descoberta sozinhas, como eu.
Mães que querem viver mais leve, com saúde, energia, entusiasmo e mais consciência na vida, mas que pararam de cuidar dos próprios sonhos, por que nem sabem mais do que gostam e por isso não fazem nada só por si. Por que a maternidade as transformou demais e elas já não se reconhecem nos seus desejos antigos. Mulheres que precisam de novos projetos de vida para serem vividos e de força e motivação para se priorizar e cuidar de si. Mulheres em crescimento e transformação. Mães que querem viver o empoderamento que a maternidade nos dá, ser na potência que nos tornamos, e que pela falta desse espaço e presença na vida, são reduzidas. Mães que não querem só se encaixar.
Eu tive que me reencontrar, me descobrir e me fortalecer de mim. Não foi fácil. Eu explodi. Em silêncio. Sozinha. Pedi demissão. Mudei de país. Engravidei de novo. Queria viver intensamente e com mais presença tudo de novo. E mais. Como se fosse para confirmar o que eu sentia.
Na busca de achar a proto-persona, a minha “cliente ideal”, eu encontrei a mim mesma. O meu eu de 4 anos atrás. Eu queria ter encontrado com o meu eu de hoje e me dado a mão. Eu queria ter ouvido que é isso mesmo, que está tudo bem e que mudar é crescer. E que com a chegada dos 40, da maternidade e do extra da pandemia, poderia acontecer isso mesmo. Que talvez não precise jogar tudo para o alto, mas encontrar novas lentes, novos ritmos, pesos, ordens e significados para as coisas. Que é urgente encontrar o autocuidado dentro desse lugar da maternidade que nos sugere que é só cuidar do outro. Onde hoje há espaço para falar de exaustão e sobre os filhos, mas parece não ter espaço para falar mais de nós, desse novo nós. Nós, mulheres com novos projetos e sonhos pessoais.
Olá, eu sou Marina Rondon. E esse é o projeto SOBRE MIM.
Um projeto que criei para mulheres que querem se auto reconhecer e crescer. Um lugar onde falo da força e da potência que nos tornamos quando viramos mães.
Aqui farei sempre um convite a pausa, na loucura da rotina casa-filho-trabalho, para compartilhar a minha experiência de ser mãe e todos os poderes que a maternidade me trouxe.
Um lugar que queria ter quando todos esses novos sentimentos, medos e desejos tomavam meu corpo e mente anos atrás. É para apoio, troca, fala e encontro.
Um lugar só para falar SOBRE MIM, que é também sobre muitas mulheres.
Que maravilhoso, Marina! Parabéns!!!
Texto lindo e cheio de personalidade. O autoconhecimento nos liberta dos padrões impostos pelo o outro em nós. Te amo amiga, parabéns!!!!