O que minha mãe nunca me disse.
Coragem, autenticidade, princípios, valores e tudo aquilo que fica além das palavras.
Certo dia, tomando banho — daqueles raros, sem criança batendo na porta, sem correr, porque tem alguém me esperando, e, acredite, sem nem estar atrasada — comecei a pensar nas frases herdadas que carrego comigo. E em como elas influenciaram, sem que eu percebesse, a forma como me posiciono na vida.
Você também tem esses momentos mágicos em que sua cabeça finalmente está livre para pensar em qualquer coisa além daquelas que você precisa anotar na lista de tarefas antes que esqueça?
Onde sua mente te leva? O que costuma surgir desses momentos?
Naquele dia, me veio à mente uma pergunta que ficou ecoando: quais frases da minha família vivem em mim até hoje — e moldaram a forma como eu vejo a vida?
Você tem as suas com clareza?
E tudo começou com as palavras que ouvi do meu pai — aquelas que me peguei repetindo sem perceber, agindo a partir delas — e que me fizeram refletir sobre como elas podem transformar uma vida inteira. Foi sobre isso que falei na última edição desta newsletter. Você leu? Vou deixar o link aqui.
Quando comecei a procurar, na minha memória, quais frases da minha mãe haviam me marcado profundamente, tive uma grande surpresa: pouco encontrei.
Fiquei intrigada com isso. Afinal, minha mãe é a pessoa mais importante, influente, presente e marcante da minha vida. Como poderia não lembrar de nenhuma frase específica dita por ela?
Fui conversar com a minha irmã sobre isso. Será que só eu não as tinha guardado?
Talvez seja porque minha mãe sempre teve a coragem de mudar constantemente. Talvez suas frases também mudassem junto com sua visão de mundo. Não sei ao certo.
Sei que eu e minha irmã ficamos um bom tempo trocando memórias sobre as coisas que ela nos ensina e representa. E percebi: é isso que acontece sempre que falo para alguém, cheia de orgulho, quem é a minha mãe.
Nessa pausa para pensar melhor sobre o que aprendi — e, felizmente, herdei — descobri que o que veio dela não foram palavras, mas ações. Ações consistentes e coerentes que moldam uma identidade.
Aprendi com ela sem ouvir frases repetidas. Foram as suas atitudes que reverberaram em mim.
Minha mãe me ensina, todos os dias, a ter ousadia com simplicidade na vida. Difícil pensar isso, né? Mas ela faz coisas não esperadas, como se fossem normais.
Ela abre portas onde nem existiam portas e a encontra novos caminhos quando parece que não há mais nenhum.
E ela é modesta que sequer reconhece o impacto dessa coragem - mas a verdade é que seguiu pouco os padrões e as histórias que já estavam escritas para ela. Criou um estilo de viver autêntico.
Sua originalidade em mudar, sua capacidade de reescrever uma vida que parecia já definida, e a coragem de buscar sempre mais, mais liberdade, me inspiram imensamente.
Muito do que vivo hoje, essa revolução que fiz na minha vida, aprendi com ela. Claro, à minha maneira, na minha versão.
Aprendi tanto — e continuo aprendendo — porque, ao longo desses anos, pude testemunhar suas transformações. Não apenas ela no papel de mãe, mas agora também como avó - e eu, como mãe. Tudo isso reflete demais na nossa relação, e tenho a alegria de, a cada dia, ampliar ainda mais a minha conexão com ela.
Você já parou para observar o que aprende — de verdade — na sua mãe?
E como é lindo ver a minha mãe honrar a chegada dos anos, mais uma vez de forma autêntica, respeitando e cuidando de si — do corpo e da mente.
Sua curiosidade, interesse pela vida, por coisas novas, ler, aprender, estudar, conhecer novos lugares e pessoas, me ensinam muito. Ela está sempre buscando se informar, se atualizar, viver aquilo que o mundo apresenta e as oportunidades que a vida traz. Com filtro, escolhendo o que faz sentido para ela, é claro.
Aos quase 70 anos, ela largou coisas que muitas pessoas jamais teriam coragem de largar, simplesmente para construir uma nova forma de viver a vida.
O valor das experiências - especialmente aquelas que vêm das viagens para explorar o mundo - é um outro aprendizado que trago. Aprendi também a dar menos importância para bens materiais.
É uma abertura para a vida, para descobrir novas trilhas e trilhos, desapegar do que não faz mais sentido e reforçar o que ainda a alimenta.
Esse é só um exemplo entre tantos do que aprendo diariamente com ela.
Aqui em casa, também temos dado mais presentes-experiência. Investido menos em coisas e mais no que podemos viver juntos e aprender.
Minha mudança de país tem muito a ver com essa visão aprendida de vida.
Minha primeira grande mudança veio dela, do interior do Mato Grosso do Sul, (do Sul, tá?) para São Paulo. Ela e 2 adolescentes, para abrir a cabeça e ter estudo melhor. É ou não um salto de coragem?
Com ela, entendi que o conhecimento, o estudo, é o melhor investimento que podemos fazer. Onde vale realmente colocar tempo e dinheiro. Algo que nunca perdemos e que nos faz crescer de verdade. E é essa a nossa prioridade também aqui com as crianças.
Ela me ensinou que o que realmente importa é o que enriquece nossa alma e nossa mente.
Lembro da nossa casa com lâmpadas penduradas nos fios elétricos, exatamente como nos foi entregue. Móveis doados, tudo simples e funcional, enquanto ela organizava sua primeira viagem de trekking para o Nepal. Ou quando vendeu nosso Monza velho para mandar minha irmã fazer intercâmbio nos Estados Unidos.
Essas imagens me emocionam até hoje pela força, importância e coragem que elas representam. Fatos que mudaram o rumo da história de toda a nossa família. Minha mãe sempre viveu intensamente o possível e fazia de tudo para que nós também vivêssemos.
Qual a imagem da história da sua família tem um impacto importante na sua vida?
O que levamos da vida está dentro, não fora de nós.
Através das suas ações, ela me mostra o que é ser íntegra. Nem sempre fala, mas sempre faz. É coerente com seus valores e princípios - mesmo que tenha a capacidade de mudar de opinião, quantas vezes quiser. Gosto de trazer isso para minha vida.
E tem um senso de justiça admirável — talvez seja essa sua única ligação direta com ter cursado a faculdade de Direito (rs). Tudo na minha vida foi igualmente "IGUAL” para mim e minha irmã. Era preciso ser justa.
Outro valor forte dela é o respeito à individualidade. Não opina, não se mete ou interfere nem onde é chamada — e isso às vezes até irrita (rs).
É extremamente honesta e verdadeira sobre as coisas que não gosta. Se posiciona com coragem, onde acha que faz sentido - mesmo que cause um pouco de desconforto. Com ela existe pouco espaço para não autenticidade. Absorvi isso e levo comigo também.
Tinha ainda um pacto com a verdade, que nasceu na minha adolescência, quando, juntas, encaramos São Paulo. Regras e combinados claros, responsabilidades divididas. Tudo tem que ser transparente, sem segredos, para construirmos confiança e, assim, conquistarmos nossa liberdade e autonomia — e ela, um pouco mais de tranquilidade (na medida do possível, rs). Esse é um lugar que quero muito construir com os meus filhos.
E tem ainda uma generosidade que busco aprender todos os dias. Porque ela dá e libera, sem impor o que acha que deveríamos fazer. E sempre com a pergunta aberta e disposição quando estou no perrengue: “Como posso te ajudar? Estou aqui para o que precisar:. E diz: "Conta comigo”, como se precisasse. Eu sei.
É uma grande fazedora e resolvedora de problemas, tipo eu. Ou eu, tipo ela (rs). Tudo isso sem abrir mão do seu espaço e da sua qualidade de vida, que são inegociáveis. Ela não vive para mim, nem para os netos, mesmo morando perto. Construiu e vive a sua vida. Acho isso incrível e inspirador. É algo que pretendo copiar.
Obrigada pela entrega, mãe. Amo ser parte de você. E inspirada por você.
Que eu possa ser, para os meus filhos, o que você é para mim.
Te amo.
O que estamos escrevendo.
E você, já parou para pensar o que aprendeu, ensina ou quer ainda aprender com a sua mãe?
Quais são os principais aprendizados que lembra das ações dos seus pais? Existe algum, em especial, que gostaria muito de passar para seus filhos?
E, olhando para a sua rotina hoje, você sente que o que ensina — com seus rituais, hábitos, palavras e atitudes — está alinhado com os valores e aprendizados que gostaria de deixar? Já tem essa clareza?
O que você gostaria que seus filhos lembrassem no futuro?
Aqui em casa, eu e meu marido temos algo muito nosso, que é o ritual do agradecimento. Toda noite, antes de dormir, fazemos nossos agradecimentos do dia. As crianças já sabem e, às vezes, começam antes mesmo que eu diga qualquer coisa. Uma noite dessas ouvi: "Quero agradecer pela minha saúde e pela minha família". Morro de amor. Fofo demais, não é? Espero que eles levem isso para vida.
Também gosto de incentivar o encorajamento, o que não é à toa, já que a base do meu trabalho é a coragem. Além do pensamento de aprendiz e de que todos somos capazes naquilo que nos empenhamos. Bento e Flora já repetem lemas que ensinei: "Eu posso, eu consigo", "Ainda não sei, mas posso aprender", "Ainda não sou bom, mas posso melhorar se repetir". Em todo desafio. Seja para correr, nadar, desenhar ou até lavar o nariz com seringa (rs).
“Mãe, eu vou chamar a Dona Coragem para me ajudar", Flora, 3 anos. rs
Claro, nem tudo são flores e tem céu azul. Um dia percebi Bento negociando com a Flora num tom de chantagem e pensei imediatamente: "Socorro! Isso sou eu?". Precisei prestar mais atenção e passar a criar conversas com mais combinados e menos punições. É um desafio constante para quem cresceu nos anos 80.
Porque, se os filhos são também espelhos, que espelho estou sendo? A importância da autoeducação e de alinhar ação e fala com intenção.
Que sejamos os adultos que gostaríamos que nossos filhos fossem.
Se deixamos rastros nas vidas das pessoas, o que carregamos também vem de longe. São histórias, gestos e exemplos que se acumulam, se transformam, e em algum momento se tornam nossos.
Que possamos olhar para as histórias dos nossos pais, perceber as evoluções que foram capazes de realizar com as ferramentas e o conhecimento que tinham, aprender com tudo o que viveram e reconhecer como suas ações ainda reverberam em nós e em nossa família.
Que possamos fazer isso com amor, respeito e compaixão — por nós, por eles e por todos — enquanto damos mais um passo na evolução da nossa família e escrevemos mais um capítulo dessa história que entregamos aos nossos filhos.
Aprendendo a cada dia. Porque é para isso que vale a pena viver.
Até isso aprendi com a minha mãe: que podemos atualizar novas versões, nos reinventar e que sempre há tempo para fazer conexões de uma forma diferente na vida.
Quais são os ensinamentos mais valiosos que você quer deixar?
É importante manter um olhar atento para perceber que, além de ensinar, também somos aprendizes. Nossos filhos muitas vezes apontam caminhos e nos fazem convites inesperados para olhar para dentro, evoluir e crescer com eles.
E você, o que tem aprendido com os seus filhos? O que seus filhos já te ensinaram sem nem perceber?
Para além dos nossos pais.
Neste Dia das Mães, eu queria contar sobre o que carrego da minha mãe, refletir sobre a mãe que estou sendo e sobre o que desejo deixar para meus filhos.
Mas será que tudo o que somos vem dos nossos pais? Ou somos mais do que isso?
Acho que somos a soma de muitas influências e daquilo que nos impactou profundamente ao longo da vida, além, é claro, da nossa própria personalidade.
Não apenas da nossa família, mas também da cultura em que vivemos, da época, do país, da escola, da carreira e da economia. Somos o resultado das amizades que cultivamos, das viagens que fazemos, dos livros que lemos, das experiências que nos marcaram intensamente, das dores que superamos e dos sonhos que escolhemos perseguir.
Somos, ainda, resultado das nossas próprias ações e escolhas: da forma como decidimos enxergar nossa história, do significado que atribuímos aos acontecimentos da vida, da nossa evolução pessoal e da nossa busca constante por novos caminhos.
O que acha que também tem impacto em quem você é hoje?
Podemos falar mais sobre isso…
Por hoje…
Feliz Dia das Mães. Um dia que tenho a alegria e a honra de dividir com a minha mãe e com muitas outras mães que fazem parte da minha vida.
Que hoje seja um dia de boas conversas, encontros e ampliação das conexões que somos capazes de fazer com aquelas que também são parte de nós. Não só pelo DNA, mas pelo impacto profundo que tiveram sobre quem nos tornamos.
(Sei que hoje é Dia das Mães só em Portugal, mas domingo que vem é no Brasil, então está valendo. Um beijo a todas.)
E você, o que carrega da sua mãe?
Adoraria continuar essa conversa com você.
Me escreve respondendo a este e-mail — quero saber o que ficou aí do seu Dia das Mães, e o que está ficando na sua história também.
Quais valores, gestos ou atitudes te acompanham até hoje — e quais você gostaria de passar adiante?
E com seus filhos, o que você já percebe que está deixando? Tem algo que você viu neles e pensou: "isso veio de mim"?
Feliz dia.
Um grande beijo,
Marina Rondon
Se quiser, conheça mais o meu trabalho:
Se ainda não se cadastrou, inscreva-se para continuar recebendo meus e-mails.
E se você está recebendo e gostando, aproveito para pedir um favor: compartilhe com outra mãe que você acredita que adoraria estar aqui com a gente!.
Visite meu site, onde você encontra um pouco de tudo do meu trabalho, além de projetos de livros, cursos, vídeos, esportes, além da Mentoria de Projeto de Vida e de Maternidade. Acesse aqui meu site
Nas minhas páginas do Instagram, você pode acompanhar o que estou fazendo por aí, entre projetos, esportes e muito cuidado com crianças e casa: @arquiteturadevidasaudavel e @marinarondon.
E não deixe de conferir minha outra newsletter do meu projeto Arquitetura de Vida para viver mais e melhor. Leia aqui.
Adoraria também te encontrar por lá e em outros lugares.
E claro, se quiser conversar diretamente comigo, me escreva!
Com carinho,
Marina Rondon
Mentora Materna | Criadora do Método Rondon - Arquitetura de Vida Saudável
Se quiser saber mais especificamente sobre o trabalho que desenvolvo e como posso te apoiar a viver sua maternidade com mais leveza, vem conversar comigo. Visite meu site e conheça minha Mentoria: Potência Materna
Contine lendo e explorando outras edições:
A edição do Dia das Mães do ano passado que virou até áudio:
Será que parabenizamos a mãe que somos?
Dia 5 de maio é o Dia da Mãe em Portugal. E o episódio de hoje vai para todas as mães incríveis que somos.
E o texto:
Será que parabenizamos a mãe que somos?
Essa pergunta tem me vindo a cabeça. Tenho contato com muitas mães. Vejo a minha volta mães tão incríveis, naquilo que se dedicam, que enxergam, que se dispuseram a fazer diferente, na busca de uma educação com respeito, com individualidade, empatia, acolhimento, onde aceita erros, desenvolve o pensar crítico, a autonomia, com comunicação positiva, tant…