Se os filhos são espelho, que espelho sou eu?
É nos detalhes do cotidiano que percebemos o que eles realmente aprendem de nós.
Palavras que se repetem.
Gestos idênticos que nos assustam.
Frases ditas com o mesmo tom.
A forma como eles falam entre eles e com as pessoas.
Os hábitos passados sem nem percebermos.
É no todo dia que nossos filhos absorvem quem somos. Eles observam o que fazemos.
É no todo dia que mostramos os nossos valores. Através de nossas escolhas e ações.
Alguns valores a gente escolhe intencionalmente passar e ficamos orgulhosos quando eles assimilam e propagam.
Outros, aqueles mais secretos, muitas vezes até inconscientes, quando desmascarados através deles, nos assustam: Isso também sou eu?
Filhos são o espelho da nossa presença.
A maternidade amplia e ilumina tudo que temos de bom, mas também traz luz às nossas sombras.
Absolutamente tudo o que já estava em nós vem à tona. Ela é um convite para confirmar tudo que somos.
Como se fossem aqueles pequenos e aparentemente singelos espelhos de aumento redondos dos banheiros de hotel de muitas estrelas que ampliam cada detalhe de nós.
A gente fica toda animada e curiosa quando o encontra, até que coloca a cara lá naquela bolinha iluminada, e se assusta. Cada mancha que nunca tinha visto, novas linhas que parecem surgir no meu rosto, pelos, poros…”Meu Deus! Preciso mesmo voltar a fazer a sobrancelha”. Rs
Chegamos muitas vezes a nos afetar, recuando do excesso de realidade. Ou seguimos paralisadas nos vendo nesses detalhes quando temos coragem de enxergar tudo que somos. Essa é a maternidade
Somos o ambiente onde nossos filhos crescem.
E se eu sou o ambiente... sou quem eu gostaria que influenciasse meus filhos?
Na exaustão da vida real, um sorriso.
Ontem à noite, entrei no quarto e os meus dois filhos já estavam de pijama à minha espera na minha cama. As noites estão estranhas por aqui. Além de parecerem dias, com o pôr-do-sol às 21h30, estamos vivendo uma dessas temporadas intensas de "vida real" - aquelas que nos tiram da saudosa rotina idealizada.
Entre viagens, filhos doentes, cachorro doente, infinitos feriados, comemorações, férias, festas, visitas, e mil imprevistos, e, para completar, uma contratura muscular nas costas.
A mesma vida que nos trouxe momentos felizes e memórias inesquecíveis também nos trouxe exaustão, dor e nos pediram mais paciência e flexibilidade.
Mas voltando à cena do meu quarto… Na nossa rotina pós-jantar, enquanto o Doca cuida da cozinha, eu me arrumo com eles para a leitura do livro. E foi nesse momento que vi a Flora fazendo massagem nos pés com o meu creme, ao lado do creme da mão já usado, e o Bento "lendo" à minha espera no meu travesseiro.
Totalmente réplicas de mim. Ufa, gostei do que vi. Sorri.
E pensei: que espelho estou sendo?
Quando somos o espelho que queremos ser.
Temos aqui em casa, eu e meu marido, a postura de agradecimento pela vida. Isso já é um ritual familiar.
Toda noite, antes de dormir, fazemos agradecimentos. As crianças sabem, é um hábito deles também. Se eu não começo, eles começam. Outro dia ouvi: "Quero agradecer a minha saúde e a minha família." :)
E sempre terminam com "Obrigada por tudo, agradecendo sempre, amei" - a interpretação deles de "amém", rs. Amo esse delicioso momento.
Gosto de trabalhar aqui o encorajamento, incentivamos desafios, damos espaço, converso muito sobre medo… - não à toa, já que a base do meu trabalho é a coragem.
E já vi tanto o Bento quanto a Flora usando um lema que ensinei: "Eu posso, eu consigo" para enfrentar aquilo que os assusta. Seja para fazer uma corrida, mudar de nível na natação, usar a seringa para fazer lavagem nasal. Rs Hoje, o Bento está aprendendo a andar de skate. Nada mais didático de como colocar a coragem em prática.
Adoro ouvir essas conversinhas de adultos entre meus filhos e ver como eles saem nessa comunicação e negociação da vida.
Bento adora criar competições com a Flora, porque obviamente, sendo 2,5 anos mais velho, tem a gigante probabilidade de ganhar. Flora, na sua grandeza e genialidade, ou eu diria até audácia dos seus 3 anos, não entra nesse jogo. Repete com firmeza uma frase que um dia me ouviu falar:
"A vida não é uma competição"
(Frase de Alfred Adler, o psicólogo austríaco, que entre tantas coisas que aprendo, me ensina a importância do ambiente social na formação da personalidade.)
Já imaginou a cena?
Sorrio com as atitudes dela, mesmo que muitas vezes me custe. Porque ela replica minhas falas: "Eu preciso fazer minha parte", mas ainda não faz. Porque, junto disso, ela também diz: “Eu não cumpro regras”.
E sempre fico nesse conflito entre achar lindo ela ser tão autêntica e já lutar pelo que quer, e o desespero de vê-la sendo anárquica, atirando qualquer regra no chão
Mas eu continuo fazendo a minha parte, como mãe, de mostrar caminhos.
Algumas vezes sinto que perco a mão. Falo tanto que açúcar é veneno, que não pode comer muito, que é só final de semana e blá blá blá... Que um dia ele voltou da escola e me contou, quase como um pedido de desculpas, que tinha comido um bolo de aniversário do amigo na escola, que tinha açúcar, em plena segunda-feira. "Filho, pelo amor de Deus, você pode comer açúcar... aniversário do seu amigo, gostoso, um momento especial... vamos aproveitar e comer um juntos agora."
E lá estava eu em plena segunda à noite comendo o ovo de Páscoa que estava escondido há meses.
Que valores você vê sendo espelhados pelos seus filhos?
Quando o espelho nos mostra o que não queremos ver.
Obviamente não é só de coisas fofas que vivencio. Um dia vi o Bento negociando com a Flora em um tom de ameaça e chantagem. "Se você não fizer isso, não vou deixar aquilo... Você tem que fazer tal coisa, senão..."
E pensei: "Socorro, isso sou eu?"
Passei a ficar mais atenta de onde vinha essa fala e conduzir as conversas com mais tom de combinado e menos tom de punição.
Um aprendizado intrínseco dos anos 80 que preciso estar plena e muita atenta para não cair nisso e replicar o que automaticamente sai de mim.
Que a gente se permita acolher, crescer e se autoeducar com os nossos filhos para cada vez mais sermos adultos que gostaríamos que nossos filhos fossem.
Evoluindo e aprendendo a cada dia.
O que você gostaria de mudar na sua maternidade?
Somos muito mais que pai e mãe.
Será que tudo vem só de pai e mãe? Será que vem só da gente?
Acredito que não. Tem tudo em volta: a cultura, a sociedade, os amigos, professores, escola, a cidade que moramos, depois o meio da carreira e trabalho que escolheram, o chefe... tudo que vai permeando as nossas fases de vida.
A nossa personalidade é moldada pelo ambiente em que vivemos e com certeza ele tem muito de pai e mãe.
Mesmo as ausências dos nossos pais são presença no desenvolvimento de quem somos. São nossos pontos principais de referência. Daquilo que nos mostram e do que fomos capazes de entender.
Somos 50% de cada um dos nossos pais, não há como negar. Mesmo que não reconheça de imediato, o nosso comportamento pode ser reforço de quem eles são, quando repetimos, ou oposição daquilo que vivenciamos.
Tudo deles reverbera em nós. Toda a história deles gera um impacto na nossa história de vida.
Somos também parte de projeções, histórias, ciclos dos nossos pais e toda a nossa família. Das lentes e interpretações que fomos capazes de formar.
Somos continuação. Somos caminhos.
Somos evolução, agentes ativos e transformadores da nossa própria história.
Gosto de pensar que somos a evolução das nossas famílias. Onde meus pais receberam dos meus avós o que eles puderam entregar. E eu recebi deles o que foram capazes de evoluir até ali.
E a minha parte é seguir construindo essa evolução para os meus netos, honrando a história da nossa família, fazendo o meu melhor.
Não negando, mas desenvolvendo. Aprendendo com os erros. Seguindo alguns padrões, sim. E criando novas referências. Transformando e recriando novos modelos.
Todos da mesma raiz. Não é assim a imagem da árvore genealógica?
Temos a mesma base. Podemos ser novos galhos com outros frutos, mas saímos do mesmo tronco. Nos nutrimos do mesmo solo. Se nego essa verdade, nego parte de mim mesma.
Somos agentes ativos e transformadores da nossa própria história. Somos capazes de escolher, tomar decisões e construir novos caminhos.
Nada determina nosso futuro, muito menos o passado, a não ser nós mesmas.
Temos a capacidade de determinar quem somos. Podemos fazer diferente, mudar sempre, mas é preciso ter clareza de que tudo que recebemos da nossa família fará parte da nossa história de vida.
As novas experiências vividas, as mesmas frases ouvidas um milhão de vezes, podem tanto paralisar como nos impulsionar. É possível fazer novas interpretações e trazer aprendizados para o nosso presente.
Voltando a Alfred Adler, ele diz que quando voltamos ao passado para mostrar como estamos bem a partir do que estamos vivendo, é porque estamos felizes com quem somos. Quando voltamos ao passado para justificar nossas dores, estamos tristes com a versão de nós que estamos vivendo.
O passado não existe.
Ele é uma narrativa moldada pelo nosso eu atual.
O passado será sempre uma representação construída por quem somos hoje. Seja uma versão triste ou feliz de nós mesmos.
Como você tem visitado seu passado? É um lugar que tem frequentado em busca do que?
Somos ambientes.
Tudo isso para dizer: faça o que você acredita que é importante. Ensine o que valoriza, de um jeito que seja seu. Essa é a sua parte.
Seja você. Seja clara. Seja íntegra. Seja consistente e coerente. Alinhe sua fala com sua ação.
Tenha clareza do seu poder de escolha e do impacto que ele tem, não só na vida dos seus filhos, mas também nos novos galhos que sairão desse solo que hoje você está adubando.
Como isso vai chegar no seu filho, nas outras pessoas, como será interpretado, é sobre a lente que cada um vê o mundo. É a parte deles. E isso você não controla.
A gente pode entregar o copo e a água, mas só eles podem beber.
Sigo fazendo a minha parte. Dentro de muitos erros e já vou me dar o crédito de alguns acertos, construindo seres humanos pensantes para eles continuarem essa história.
Viver a vida com atenção, presença, intenção e coragem para olhar no espelho iluminado que me amplia em todas as minhas belezas e falhas para me fortalecer e evoluir, é o legado que quero entregar como herança na árvore da minha família
Me conta: que valores você reconhece sendo espelhados pelos seus filhos? O que te surpreende ou gosta de ver?
Espero continuar essa conversa.
Marina Rondon | Mentora Materna | Método Rondon - Arquitetura de Vida Saudável
PS: Se esse texto despertou vontade de ser mais intencional na sua maternidade, eu te convido a conhecer a minha Mentoria Vida Expandida. É um espaço seguro, profundo e transformador para mães que querem olhar no espelho com coragem e evoluir junto com seus filhos.
Mais…
Comecei a reflexão sobre esse tema tempos atrás nesta edição. Se você perdeu e quer continuar lendo, acesse aqui:
A função da família é refletir os nossos valores.
Depois de dois meses realizando sessões sobre valores com minhas clientes—para que pudessem desenhar seus projetos de vida, refletindo sobre o que gostariam de construir e viver mais—essa frase chegou aos meus ouvidos enquanto eu escutava um podcast:
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Com carinho,
Marina Rondon
Mentora Materna | Criadora do Método Rondon - Arquitetura de Vida Saudável
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