Não foi planejado a vida “começar só depois do carnaval”. Mas foi isso que a vida quis. Permiti. Sem lutar contra. Sem frustração. Sem ansiedade. Eu sabia que eu ia voltar. Gosto de estar aqui. Mas realmente não estava cabendo nada além de cuidar de filhos doentes, cuidar de mim e todo o rolê básico, indispensável e infinito de casa-trabalho-criança.
Eu sempre gostei do ritmo rápido. Acelerado. Sou fazedora. Amo uma lista e ver ela ser completada. Um check, uma alegria. A vida em torno de resultados. Dias cheios e produtivos. Mas tudo que é excesso e que vira uma briga, obsessão e frustração, pode ser também muito tóxico, não?
A maturidade (talvez), a experiência e a maternidade (com certeza), me ensina diariamente que não é a lista que importa, é a presença e a clareza da minha prioridade sendo prioridade.
E assim, o ritmo acelerado, desacelerou.
Muita coisa e muito rápido é quase o oposto do que uma criança precisa. E pede. Aliás, exige. O dormir agarrado até o sono acabar. E acordar lentamente com muita preguiça na cama quentinha. A demora para trocar de roupa. O sentar no chão e brincar de faz de conta. A dinâmica das refeições. A montagem do quebra cabeça 8x na mesa da sala. O corte dos legumes em mini pedacinhos para ajudar a fazer o jantar. O banho longo cheio brincadeiras e música, e a negociação para sair da água. A leitura de livros e mais livros antes de ir deitar.
Presença e tempo. Em tudo. E principalmente, o espaço para eles fazerem sozinhos tudo aquilo que são capazes de fazer.
Juntou com tudo isso, vivi uma sequência de cuidados chatos e cansativos diários de remédios para eles melhorem de todas as “ites” que rolou por aqui durante 1 mês.
E assim, foi preciso fazer menos, seguindo o meu próprio convite do último texto. Isso está quase virando um mantra ou um manifesto.
Diariamente precisei escolher prioridades e batalhas. A louça dormiu suja, a roupa acumulou, a natação de todos da família demorou a voltar, a casa ficou mais suja, chegamos atrasados na escola quase todos os dias, rolou muito macarrão para as crianças e o consumo de açúcar desandou, descuidei de algumas plantas que se foram por falta de água, meu trabalho foi reduzido e a quantidade de estudos também. Saímos menos de casa e o carnaval teve só 2 dias… tudo menos. Mas ter a rotina e regras pré-estabelecidas, como norte, tem nos ajudado voltar e é isso que estamos fazendo.
E já tinha desacelerado muito no final do ano, inventei que eu ia tirar férias carregando parte do meu trabalho (as duas crianças), como se isso fosse possível. Mas o fato que no dia 07 de janeiro fiz uma grande lista de tudo que faria naquele mês, coisas que vinha do ano passado até. A lista hoje, mais de 40 dias depois, é quase a mesma, com itens a mais de coisas que vem surgindo diariamente. Itens meus e de muitos itens das crianças. As vacinas, os médicos, os remédios, os exames… mas continuei fazendo menos. Fui correr nesse período pelo menos 2x por semana, não abri mão. Mantive minha leitura, pelo menos 30min por dia. Coisas assim não abandonei, mesmo que menos, pois me ajudam.
Saber esses meus mínimos tem sido importante.
O senso de “suficientemente bom” foi colocado em prática (e o senso de humanidade às mães também), aceitando os meus erros, me considerando nas decisões, buscando algo longe do perfeito, e tendo compaixão e respeito ao tempo e a fase que vai passar, como toda fase.
Inventei no meio disso tudo, uma “HappyShortFriday”, onde impus 2h antes de pegar as crianças na escola (e começar todo o nosso fim de semana em que não se descansa), um momento de paz e um papo de adulto sem ser interrompido com uma amiga. Esse encontro semanal foi o que precisei. Não é ter uma coisa a mais para fazer, é abrir espaço para mim. O que me faria mal seria seguir com rigidez de não flexibilizar, quando preciso, e a frustração, caso um dia não dê certo, mas planejar ter esse momento, tem me feito bem. Se falhar um ou duas x no mês, pelo menos fui 2, que é muito melhor do que nunca ter esse tempo para mim, algo que nutre a minha saúde mental e emocional.
Uma amiga mãe me contou que também decidiu fazer menos, então ela não marca mais encontros, ela prefere deixar acontecer. Não há certo ou errado nisso, precisa só estar alinhado com o que você precisa, mas eu nunca mais a encontrei. Ter na agenda e ajustar quando a prioridade mudar, para mim, é o que funciona ou sou realmente engolida pela vida sem fim e por coisas menos importantes que acontecem todos os dias.
Dentro da vida onde parece que estamos sempre faltando, em casa, no trabalho, com o marido, com os filhos, onde temos que ser produtivas, estar movimento e sendo incríveis em tudo, fazer menos é força. Quando tudo está atrasado e você escolhe ler um livro no sol que surgiu, sentar na areia da praia e ouvir o mar, desligar o despertador e acordar só com as crianças, largar tudo e sair para correr, sentar no sofá e fazer nada…
Dar essa atenção e espaço no meio do caos às necessidades que você precisa, seja descanso, movimento ou estímulo é revolucionário.
Resistência, talvez seja essa a palavra. Estamos ficando muito habituadas com frases “muito corrido”, “uma loucura” e até à sensação da exaustão o tempo todo tem sido normalizada. É preciso se empoderar para agir para o menos. E o que seria mais natural, “tá cansada, senta”, como diria o músico Lenine, deveria ser cultivado, mas não é o que temos feito. Percebo que o descansar até provoca ansiedade e aí o FAZER vem, o descanso nunca acontece. É um ciclo da exaustão.
A vida não vai acabar, não vamos ser menos merecedoras, ruins ou erradas. Até por que, o troféu de exaustão também não vem e não tem. E quem gostaria de recebe-lo? Ter burnout virou sinônimo de sucesso?
A lista pode até crescer, mas o fazer menos, com certeza vai te trazer o fazer melhor e o importante.
Uma amiga achou estranho a vida mais calma no retorno ao trabalho, pós a licença a maternidade. O que poderia ser visto com uma oportunidade de conseguir estar mais presente em casa nessa fase de adaptação e de aleitamento materno que continuava, veio a sensação de medo, insegurança, e não o alivio. Eu já passei por isso. Mais mais mais mais.
Eu sei, é contra as forças sociais e maternas. Mas olha, pode até te dar uma sensação de poder quando você percebe que está escolhendo o que precisa, se colocando nessa equação, impondo os seus limites e se permitindo fazer menos. O menos, pode ser realmente o que você precisa.
Definir conscientemente onde colocará o seu tempo, sua energia e sua atenção é poderoso.
Seja gentil e generosa com você, com os outros e com a vida. Confirma seus valores, suas prioridades, defina os seus limites e vai.
Você é a única que poderá fazer isso por você.
Mantenho o convite: Você ousaria fazer menos?
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Adorei as dicas!! Tem toda razão.
Fui por esse caminho no instagram, com bloqueio de tempo de uso e ta funcionando bem. Agora vou implementar o livro. Te conto depois ;)
Minha meta é conseguir voltar a ler livros. Desativei o instagram do celular, vamos ver se consigo agora :)