A chegada de um filho gera um tsunami em nós. Em todos os sentidos. Não é só a rotina que não é mais feita pensando somente em nós, mas o corpo tem novas marcas e formatos. A nossa mente tem novos desafios de memória e foco. As urgências e prioridades ganham outra ordem.
Nossos interesses e conhecimentos se expandem para temas antes jamais considerados ou considerados desinteressantes (desmame, desfralde, tantos novos “des” e tantos desafios).
O tempo e a velocidade das coisas ganham outra dimensão. A nossa capacidade de tolerar o cansaço e o nível de paciência se multiplicam.
Todas as nossas relações, não só a comigo mesma, também são impactadas. E as conexões com outras mães e com os nossos próprios pais ganham novos significados. (Ahh, agora entendi…)
O nosso olhar sobre a importância do mundo e do mundo que é a minha casa, assim como o mundo que sou eu para meu filho, ganha mais cuidado.
Nenhum fio do nosso cabelo é igual. Em todos os sentidos. Eles caem e vêm novos fios, em outros tons e frequências.
Despedir-se é necessário. Ou vamos sempre querer voltar ao lugar de antes.
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Eu converso com muitas mulheres. Percebo que, às vezes, esse não-luto do que não vai voltar traz um misto de esperança (“é só uma fase, depois eu vou voltar”), desconforto (“não sei se quero voltar para aquele lugar”) ou medo (“mas para onde será que eu vou?”).
Quando escuto essa frase “Daqui a pouco eu volto”, sempre me pergunto internamente (para não causar o que talvez não deva): “Mas voltar para onde?”
Não tem voltar.
Não dá para voltar para o lugar de onde a gente saiu.
Não somos mais as mesmas.
Não somos mais as mesmas em todos os sentidos.
Nós saímos de um lugar e visitamos outros espaços, experimentamos novos sentimentos. Nos transformamos.
Não dá para voltar para o lugar de onde a gente saiu.
Não somos mais as mesmas.
Não somos mais as mesmas em todos os sentidos.
Não somos mais as mesmas todos os dias.
Todo dia sou diferente, que seja do livro que estou lendo, de um podcast que ouvi e me deu um gatilho, uma conversa incômoda ou sensível que rolou no meu dia, um insight no meio do banho, uma cena que aconteceu bem na minha frente.
Que seja uma nova troca de olhar com o seu filho.
Não dá para uma mãe voltar ao trabalho. Precisamos reinventar o trabalho. O trabalho precisa se reinventar para a nova mulher que nos tornamos depois da maternidade.
O trabalho não é mais o mesmo. Não só o nosso corpo, a nossa mente ou as nossas relações mudaram. Precisamos de um espaço novo, onde a maternidade possa coexistir sem que a gente precise se espremer, se esconder ou apagar parte de nós.
Não somos mais as mesmas em todos os sentidos.
A volta ao trabalho, depois do puerpério, é aquela turbulência que só entendemos que existe depois que estamos dentro da agitação, que ninguém é capaz de explicar. Nem a gente consegue verbalizar. Seja pela dor, o amor inexplicável, o desconforto que vivemos… o sono, o cansaço, o medo, ou mesmo uma decepção (“achei que ia ser mais fácil… achei que ia ser minha cara… achei que era uma menina… achei que ia ser paixão à primeira vista… não foi…”).
Como eu volto?
Como essa pessoa que tem novos segredos, que entrou em buracos, que encontrou vazios, que descobriu forças extraordinárias, que foi capaz de sentir dores (de parto, de amamentar, de alma) que ninguém contou que assim seria, que tem novos vazios e uma expansão de novas formas de se preencher volta?
Não dá.
Não somos mais as mesmas em todos os sentidos.
Tentar voltar é tentar caber. É nos reduzir. É como uma bexiga que se encheu de ar e quer voltar a ocupar o espaço antigo de quando estava murcha. É apertado.
Nós nos expandimos. E para voltar, ou vamos precisar nos encaixar em um lugar antigo apertado, ou nos esvaziar de uma parte nova de nós.
Ambos os casos são desconcertantes.
Essa tentativa de voltar (“voltar à minha rotina, ao meu corpo, à minha forma de trabalhar, à minha vida social, aos meus papos...”) é uma ilusão e até uma redução de nós.
Não dá para voltar nem às mesmas roupas. As minhas não encaixam mais em mim. Meu abdômen não é mais o mesmo. Nem o meu quadril. E muitas nem combinam mais comigo.
Toda vez que tento voltar, me encaixar ao que era, dói. Traz incômodos. Não faz sentido. Pensa em uma roupa apertada? Deixa marcas. É desconfortável demais.
Confesso que o incomodo com as roupas que me apertam ainda persiste e me lembram: “Oi, você não tem o mesmo corpo. Você mudou, lembra?”
É muito angustiante esperar essa fase passar... Algo que um dia você sonhou: ter seu bebê no seu colo... Para voltar a ser alguém que você nem é mais.
E a gente se prende nesse tal caminho de volta, porque parece ser mais fácil voltar ao que já era conhecido, do que começar a construção de algo novo.
Não dá para voltar a ser o que éramos, se já não somos mais quem éramos.
Não somos mais as mesmas em todos os sentidos.
É preciso recriar. Criar um novo. Aceitar a transformação. Assumir: somos uma nova versão de nós.
Por que a gente insiste que temos que voltar? Será que foi algo imposto a nós? Quem nos conta que temos que voltar?
Por que tendemos a nos encaixar e não assumir que nos expandimos?
Desses quase 6 anos sendo mãe, não vejo nenhuma possibilidade desse voltar. Não tem caminho de volta, porque a pessoa que percorreu o caminho até o dia de ontem não é a mesma que escolheria o início desse caminho novamente.
Não somos mais as mesmas em todos os sentidos.
E se tivéssemos coragem de olhar para frente e reinventar tudo a partir do ponto de hoje, para ser mais leve, mais gentil, mais respeitosa… eu diria, mais coerente com o que somos hoje?
De tudo que já vivi, só há uma saída saudável: assumir nossa nova versão e construir um novo mundo a partir de tudo que nos transformamos.
Ou vem muita solidão, desconforto, questionamentos pesados e até cobranças ou culpas que não precisam. Eu senti muita solidão. Tive poucas trocas com outras mães que estavam na mesma fase que eu. Sentia que ninguém me entendia e nada me cabia mais.
Foi preciso encontrar novas formas de voltar aos outros papéis, respeitando essa nova mulher que me tornei.
Sem tentativa de se encaixar e sem comparação com o que foi e não voltará a ser (Que bom! Porque isso seria se reduzir!).
Já ouvi muitas mulheres que se comparam com elas mesmas de outra fase, outra versão, com outras prioridades, outra idade…e isso é perder. Elas se acham mais lentas, mais burras, falam mal da sua memória, da sua energia, do seu foco, da sua bunda… Claro que é tudo diferente.
Tem um ser humano que demanda a minha energia e o meu tempo também. A minha mente, que antes era focada só ao trabalho e aos meus objetivos e metas pessoais, hoje está ocupada com grande parte pelos seres mais importantes da minha vida: meus filhos.
Temos uma nova razão de viver que não é mais o nosso trabalho. É algo ainda melhor. Mas, se fico tentando ser quem eu era, crio duas frustrações: não ser a pessoa que era, porque é impossível; e nem ser mãe que gostaria de ser.
A volta a ser quem éramos, no restante da nossa vida, sendo que não somos mais quem somos, porque o nascimento dos nossos filhos nos transformaram imensamente.
A chegada do nosso filho também é um encontro novo com nós mesmas.
É preciso muito cuidado para ser leve.
Temos novos papéis na vida. É preciso assumi-los e honrá-los.
Somos uma nova versão de nós em todos os lugares.
Não somos mais as mesmas em todos os sentidos.
Jamais seremos a mulher de antes.
Não dá para voltar. É continuar. É fazer de novo, de novo...
É continuar a partir de uma nova fase que estamos vivendo hoje.
É sobre transformar-se e se expandir.
E criar um novo espaço para o novo ser que você se tornou. Todos os dias.
Obrigada por estar aqui.
Espero continuar seguindo junto com você.
Um grande beijo.
Marina Rondon
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A função da família é refletir os nossos valores.
Depois de dois meses realizando sessões sobre valores com minhas clientes—para que pudessem desenhar seus projetos de vida, refletindo sobre o que gostariam de construir e viver mais—essa frase chegou aos meus ouvidos enquanto eu escutava um podcast:
Quem estabelece suas prioridade e escolhas?
Vivemos sempre consumidos pelas atividades das nossas obrigações, as tais tarefas sem fim do trabalho, casa e filhos. Tentando dar conta daquilo que um ser humano nem é capaz de cumprir.
Os caminhos que não tomamos continuam lá?
Essa foi a pergunta que ficou na minha mente em um momento mágico do último domingo, onde por 15 minutos eu deitei em uma cadeira de sol, enquanto as crianças brincavam com o pai na piscina.
Você ousaria fazer menos?
Não foi planejado a vida “começar só depois do carnaval”. Mas foi isso que a vida quis. Permiti. Sem lutar contra. Sem frustração. Sem ansiedade. Eu sabia que eu ia voltar. Gosto de estar aqui. Mas realmente não estava cabendo nada além de cuidar de filhos doentes, cuidar de mim e todo o rolê básico, indispensável e infinito de casa-trabalho-criança.
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